sexta-feira, 14 de julho de 2017

fome de viver

Todas as noites ele sentia mais fome. Precisava se alimentar do sangue, da carne viva e quente. Em seu corpo, sentia o desespero em suas entranhas, como um animal que se contorce de dor.
Como em todas as noites, ficava parado em uma esquina obscura esperando alguma presa passar. Ficava por horas, de cabeça baixa e olhos fechados, encostado na parede fria, sentindo os cheiros da penumbra.
No momento certo, o aroma doce da pele feminina e o pulsar do sangue quente correndo pelas veias o alertavam.
Abria os olhos, sorria mostrando os dentes brancos e pontiagudos e contava os segundos até saltar sobre sua vítima. Sua musculatura se preparava, as pernas flexionavam e pulava como um lobo faminto sobre a mulher.
Sua mordida sempre era certeira, no pescoço, enquanto que com as mãos arrancava as roupas da presa e de forma ágil percorria seus dedos penetrando pelo corpo dela. O ataque era tão rápido que nunca houve um só grito, muito pelo contrário, muitas vezes gemidos eram ouvidos. Sussurros de prazer proibido e furtivo.
Ele devorava sua presa de forma que ela se entregasse por completo. Mas daquela vez algo aconteceu, após penetrá-la, ele foi mordido de volta. A presa tinha algo em seu ser que a diferenciava da outras, ela não era apenas uma vítima, ela era uma caçadora como ele. 
O caçador queria a carne dela. A caçadora queria o espírito dele.
Eles se devoraram com fome de sangue. Lutaram pelo domínio da ação como dois líderes de uma mesma matilha.
Ao final gozaram como bestas feras.
Se levantaram se olhando nos olhos sem dizer uma palavra.
Cada um foi para um lado sem falar nada um para o outro, apenas se encaravam, eles sabiam que a comunicação entre eles era maior, era algo de pele, ligando as almas.
Se distanciaram sabendo que se encontrariam novamente para saciar a fome de ambos.
O sangue e o sexo.
A carne e o espírito.