Estou sentado tomando um café quando uma criança de uns quatro, cinco no máximo, anos para ao meu lado. Sorrio pra ela e para os pais da dita que estão na mesa do lado.
Baixo a cabeça e volto a ler, mas noto que o infante continua ali parado.
Tento ler mas fico de canto de olho cuidando o petiz. E claro, o menino pimpão não poderia se contentar em olhar para minha mochila, ele tinha que colocar aquela mãozinha suja de chocolate dentro da minha pasta, direto nos meus livros.
Com aquela calma com que fui brindado ao nascer, chego para o serelepe e digo: "oi pequeninho, não podes mexer na pasta do tio".
E daí vem a desgraça toda: o simpático garotinho, ao ouvir a palavra não, muda o semplante e se torna uma versão santa-mariense do Damien Thorn.
Confesso que temi pela minha vida, pois o olhar daquele menino eu só tinha visto nas gravuras de demônios da "Divina Comédia". Mas para minha sorte o filho do 666 apenas me deu um chute na canela e voltou para a mesa dos pais - que neste momento me olhavam com desaprovação.
Respirei um segundo, agradeci por não ter ganho a ak-47 que sempre sonhei e volto para minha leitura.